Destaque a importância da nutrição adequada para o crescimento das plantas aquáticas.
Apresente uma preocupação comum: muitos fertilizantes naturais caseiros podem prejudicar peixes e outros organismos aquáticos.
Objetivo do artigo: ensinar como produzir e aplicar adubo natural de forma segura e eficaz para plantas aquáticas, mantendo o ambiente saudável para os peixes.
Por que optar por adubo natural em ambientes aquáticos?
O uso de adubos naturais em aquários e lagos ornamentais oferece vantagens ecológicas e econômicas. Por serem derivados de fontes orgânicas, esses fertilizantes tendem a ser mais sustentáveis e, muitas vezes, mais acessíveis, reduzindo o impacto ambiental do cultivo aquático.
Outra grande vantagem é a redução do uso de produtos químicos no sistema. Adubos naturais promovem um ambiente mais estável e menos agressivo para peixes, invertebrados e microorganismos benéficos, contribuindo para um ecossistema mais equilibrado e seguro.
Além disso, o uso contínuo de adubos orgânicos contribui para a melhoria gradual da qualidade do substrato, enriquecendo-o com matéria orgânica e nutrientes de liberação lenta. Isso favorece o crescimento das plantas e fortalece a saúde geral do ecossistema aquático ao longo do tempo.
Cuidados essenciais ao usar adubos naturais com peixes no sistema
A utilização de adubos naturais em sistemas que integram plantas aquáticas ornamentais e peixes exige atenção redobrada. Embora esses fertilizantes orgânicos sejam benéficos para as plantas, seu uso inadequado pode comprometer a saúde dos peixes e o equilíbrio do ecossistema aquático. Veja os principais cuidados a seguir:
Evitar substâncias que alterem o pH ou liberem amônia
Certos adubos orgânicos podem afetar o pH da água ou liberar amônia durante sua decomposição, o que é extremamente tóxico para os peixes. Antes de aplicar qualquer fertilizante, é essencial verificar sua composição e monitorar constantemente os parâmetros da água.
Não usar compostos mal curtidos ou em decomposição ativa
Adubos que não passaram por um processo adequado de compostagem continuam liberando gases e substâncias nocivas. Isso pode causar desequilíbrios no sistema, incluindo a redução dos níveis de oxigênio dissolvido, prejudicando tanto os peixes quanto as plantas.
Importância da filtragem biológica e da circulação da água
Um bom sistema de filtragem biológica é fundamental para decompor os resíduos orgânicos de forma segura e manter a água limpa. Além disso, a circulação constante da água ajuda a distribuir os nutrientes e o oxigênio de maneira uniforme, prevenindo a formação de zonas mortas ou com acúmulo de resíduos.
Aplicação controlada e em pequenas quantidades
Menos é mais quando se trata de adubação em sistemas com peixes. Aplicar o adubo aos poucos permite observar como o sistema reage e evita excessos que possam causar colapsos no equilíbrio da água. O ideal é começar com doses mínimas e ajustar gradualmente conforme a necessidade das plantas e a resposta do ecossistema.
Como fazer adubo natural em casa para plantas aquáticas (passo a passo)
Receita 1: Chá de composto bem curtido (líquido)
Produzir seu próprio adubo líquido em casa é uma alternativa econômica, sustentável e segura para nutrir plantas aquáticas. O “chá de composto” é um fertilizante natural líquido rico em nutrientes, ideal para sistemas que integram plantas e peixes, desde que seja preparado corretamente. Veja o passo a passo:
Materiais necessários
Composto orgânico bem curtido (maduro e estabilizado)
Água sem cloro (pode-se usar água da chuva ou deixar a água da torneira descansar por 24–48 horas)
Balde ou recipiente com tampa (preferencialmente escuro, para evitar crescimento de algas)
Pano ou peneira fina para coar
Modo de preparo e tempo de fermentação
Coloque cerca de 1 parte de composto maduro para 5 partes de água no balde.
Misture bem e tampe parcialmente o recipiente (deixe uma pequena abertura para ventilação).
Deixe fermentar por 3 a 5 dias em local sombreado, mexendo diariamente para oxigenar e ativar os microrganismos benéficos.
Após esse período, o líquido terá escurecido e adquirido um cheiro terroso (nunca pútrido ou desagradável — se isso ocorrer, descarte e refaça com composto mais estável).
Como coar e diluir corretamente para uso em aquários
Depois de fermentado, coe o líquido com um pano limpo ou peneira fina, removendo qualquer resíduo sólido. A concentração do chá pode ser forte demais para uso direto em aquários, por isso é fundamental diluir:
Diluição recomendada: 1 parte do chá para 10 a 20 partes de água sem cloro.
Sempre teste a mistura em pequena quantidade antes de aplicar no sistema completo.
Aplicação segura: quantidade e frequência recomendadas
Quantidade: Aplique de forma gradual — cerca de 5 a 10 ml da solução diluída por litro de água do aquário, dependendo da densidade de plantas.
Frequência: Uma vez por semana é suficiente para manter o crescimento saudável das plantas sem prejudicar os peixes.
Dica extra: Monitore o pH, amônia e oxigênio da água após cada aplicação para garantir que o sistema continue equilibrado.
Receita 2: Húmus de minhoca líquido (biofertilizante suave)
O húmus de minhoca líquido, também conhecido como “chá de húmus”, é uma excelente opção de adubo natural para plantas aquáticas, especialmente por ser mais suave e seguro em sistemas que incluem peixes. Rico em microrganismos benéficos, minerais e substâncias bioativas, esse biofertilizante ajuda no crescimento das plantas sem agredir o equilíbrio do aquário ou lago.
Como extrair o líquido do húmus (chá de húmus)
Coloque aproximadamente 1 xícara de húmus de minhoca em um pano limpo ou em um filtro de café reutilizável.
Mergulhe o “pacote” de húmus em 1 litro de água sem cloro.
Deixe em infusão por 24 a 48 horas em local sombreado, mexendo ocasionalmente para estimular a liberação dos nutrientes.
Após esse período, retire o húmus e coe novamente, se necessário. O líquido resultante é o chá de húmus, pronto para ser diluído.
Como diluir para uso seguro com peixes
Embora seja um fertilizante leve, o chá de húmus ainda precisa ser diluído antes de ser adicionado ao sistema aquático, para garantir a segurança dos peixes.
Diluição recomendada: 1 parte de chá de húmus para 10 a 15 partes de água sem cloro.
A dosagem pode ser ajustada com base na densidade de plantas e no tamanho do sistema, sempre com monitoramento dos parâmetros da água.
Indicado especialmente para aquários low-tech e lagos naturais
Por ser um bio fertilizante de liberação gradual e livre de substâncias agressivas, o chá de húmus é ideal para:
Aquários low-tech, onde não há CO2 injetado ou iluminação intensa, e o equilíbrio biológico é mais delicado.
Lagos ornamentais e naturais, onde o objetivo é manter uma harmonia entre plantas, peixes e microvida sem alterações bruscas na qualidade da água.
Seu uso contínuo favorece a saúde das raízes, a resistência das plantas e a estabilidade geral do sistema aquático.
Receita 3: Pastilhas de adubo sólido para o substrato (versão caseira)
As pastilhas de adubo sólido são uma excelente opção para nutrir plantas aquáticas diretamente pelas raízes, de forma gradual e localizada. Elas liberam nutrientes lentamente no substrato, sem contaminar a coluna d’água, o que as torna ideais para sistemas com peixes. A versão caseira é fácil de fazer, econômica e segura, desde que sejam usados os ingredientes certos.
Ingredientes seguros
Para preparar uma pastilha equilibrada e segura para ambientes aquáticos, utilize os seguintes componentes:
Húmus de minhoca seco e peneirado – fonte principal de matéria orgânica e nutrientes.
Argila – ajuda a dar liga à mistura e fixa os nutrientes no substrato.
Farinha de osso vegetal – rica em fósforo e cálcio, favorece o desenvolvimento radicular.
Alga em pó (opcional) – fornece micronutrientes e estimula o crescimento saudável das plantas.
Proporção sugerida:
2 partes de húmus seco + 1 parte de argila + ½ parte de farinha de osso + uma pitada de alga em pó (se disponível).
Como modelar e secar as pastilhas
Misture bem todos os ingredientes secos até obter uma massa homogênea.
Adicione pequenas quantidades de água até formar uma pasta moldável.
Modele bolinhas pequenas (do tamanho de uma ervilha ou um feijão).
Deixe secar completamente à sombra por cerca de 48 a 72 horas, em local ventilado.
Importante: As pastilhas devem estar totalmente secas antes de serem inseridas no aquário, para evitar fermentação ou liberação súbita de nutrientes.
Inserção direta no substrato, longe de raízes expostas ou zonas com circulação intensa
As pastilhas devem ser colocadas diretamente no substrato, preferencialmente:
Perto das raízes principais das plantas, mas sem contato direto com raízes muito finas ou delicadas.
Distantes de áreas com forte circulação de água (como saídas de filtros ou bombas), para evitar que se dissolvam rapidamente ou liberem partículas na água.
Recomenda-se o uso moderado: aplique 1 ou 2 pastilhas por planta a cada 30 a 60 dias, monitorando a resposta das plantas e a estabilidade do sistema.
Plantas mais indicadas para esse tipo de adubação natural
O uso de adubos naturais, líquidos ou sólidos, é especialmente eficaz quando alinhado com as necessidades das espécies vegetais presentes no sistema aquático. Algumas plantas se beneficiam mais desse tipo de adubação por sua forma de absorção de nutrientes — seja pelas raízes, pelas folhas ou diretamente da água. A seguir, conheça os grupos mais indicados para aproveitar os fertilizantes naturais com segurança e eficiência:
Echinodorus, Vallisneria, Cryptocoryne (raízes profundas)
Essas espécies são ideais para o uso de pastilhas de adubo sólido no substrato. Possuem sistemas radiculares profundos e robustos, que extraem nutrientes diretamente do solo aquático.
Echinodorus: apreciada em aquários por suas folhas largas e crescimento vigoroso.
Vallisneria: com folhas longas e fitas, contribui para o sombreamento e oxigenação.
Cryptocoryne: variedades compactas e adaptáveis, ótimas para aquários low-tech.
Essas plantas respondem muito bem a adubações localizadas, promovendo crescimento saudável e folhagem intensa.
Anubias e musgos (com reforço via água ou pastilhas)
Espécies de crescimento lento e geralmente fixadas em troncos ou pedras, como Anubias e musgos aquáticos (ex: Taxiphyllum barbieri, conhecido como musgo de Java), não absorvem muitos nutrientes pelas raízes.
Por isso, são indicadas para adubações líquidas suaves, como o chá de composto ou o chá de húmus diluído. No entanto, podem se beneficiar do uso moderado de pastilhas posicionadas próximas ao suporte onde estão fixadas, desde que longe do fluxo direto da água.
Flutuantes como Salvinia e Pistia (absorvem nutrientes diretamente da água)
Plantas flutuantes são ótimas aliadas no controle de nutrientes e ajudam na filtragem natural do sistema. Elas absorvem os elementos diretamente da água através de suas raízes suspensas.
Salvinia: pequena, de crescimento rápido, eficaz na remoção de excesso de nitratos.
Pistia (alface d’água): maior, com raízes longas e ótima capacidade de purificação.
Essas plantas são ideais para receber fertilizantes líquidos bem diluídos, pois absorvem rapidamente os nutrientes disponíveis na coluna d’água.
Como monitorar o equilíbrio do aquário após a adubação
Após a aplicação de adubos naturais — mesmo os mais suaves —, é essencial acompanhar de perto as reações do sistema aquático. Um aquário equilibrado mantém plantas saudáveis, peixes ativos e água limpa. Pequenos sinais podem indicar excesso de nutrientes ou desequilíbrios químicos. Veja como fazer esse monitoramento de forma prática e eficiente:
Observação do comportamento dos peixes
Os peixes são excelentes indicadores da saúde do aquário. Após a adubação, observe:
Se estão nadando normalmente ou demonstrando agitação, boquejos frequentes na superfície ou letargia.
Se há sinais de irritação, como coçar-se nas pedras ou nadar de forma irregular.
Esses comportamentos podem indicar alteração nos parâmetros da água, como pH ou amônia elevada. Em caso de dúvida, suspenda a adubação e investigue a causa.
Verificação da transparência e odor da água
A água deve manter-se clara e com odor neutro ou levemente terroso. Atenção a:
Turbidez persistente, que pode indicar excesso de matéria orgânica ou proliferação de bactérias.
Cheiros fortes ou desagradáveis (amônia, podridão), que são sinais de decomposição inadequada.
Esse tipo de alteração costuma surgir quando o adubo está mal curtido ou foi aplicado em excesso.
Testes de amônia, nitrito e pH
Testes químicos simples, encontrados em lojas de aquarismo, ajudam a manter o controle do sistema.
Amônia (NH₃): deve estar sempre em 0 ppm. Qualquer presença indica risco para os peixes.
Nitrito (NO₂): também deve estar em 0 ppm. Sinais de sua presença indicam falhas na filtragem biológica.
pH: o ideal depende dos habitantes do aquário, mas é importante que se mantenha estável. Variações bruscas após a adubação podem sinalizar que o fertilizante está interferindo na química da água.
Frequência ideal de trocas parciais de água
Trocas parciais regulares ajudam a manter o sistema estável, removendo excessos de nutrientes e resíduos acumulados.
Frequência recomendada: de 20% a 30% do volume do aquário a cada 7 a 10 dias.
A água nova deve ser sem cloro e próxima da temperatura e pH da água do aquário.
Esse cuidado reduz o risco de acúmulo de substâncias tóxicas e mantém a qualidade da água para peixes e plantas.
Conclusão
Adubar plantas aquáticas de forma natural e caseira é não apenas possível, como também altamente benéfico — desde que feito com cuidado e responsabilidade. Com o uso de adubos orgânicos bem preparados, como o chá de composto, o húmus líquido ou as pastilhas sólidas, é perfeitamente viável nutrir as plantas sem comprometer a saúde dos peixes nem o equilíbrio do ecossistema aquático.
O princípio fundamental é o equilíbrio. Em sistemas que combinam flora e fauna, menos é mais: adubações suaves, bem distribuídas e monitoradas garantem resultados consistentes a longo prazo. Evitar excessos é o segredo para manter a água limpa, os peixes saudáveis e as plantas vibrantes.
Por fim, este processo também nos convida a uma atitude mais consciente e sustentável. Ao produzir nossos próprios fertilizantes com resíduos orgânicos e ao observar com atenção os sinais do aquário, promovemos uma conexão mais próxima com a natureza e com os ciclos da vida aquática.
Com respeito ao ritmo do sistema e cuidado nos detalhes, é possível criar um ambiente bonito, funcional e ecologicamente equilibrado.